A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) terá uma oferta especial de formação para 2022: foi aprovada a criação do curso de Engenharia de Minas no Conselho Acadêmico da Escola Superior de Tecnologia (CONAEST), presidido pela diretora Profa. Dra. Ingrid Sammyne Gadelha Figueiredo.
Tive a oportunidade no feriado da Amazônia e da Independência de ler o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) defendido na reunião ocorrida no final de agosto pelo coordenador Prof. Dr. João Evangelista Neto, presidente do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso formado pela Profa. Dra. Alcirene Maria da Silva Cursino (coordenadora pedagógica) e pelos membros Prof. Dr. Fabian Cardoso Litaiff (coordenador de Qualidade de Ensino), Prof. Dr. José Costa de Macedo Neto, Prof. MSc. José Luiz Sansone, Profa. Dra. Valdete Santos de Araújo e Prof. MSc. José Luiz Nunes de Mello.
Serão oferecidas 30 vagas ao Curso Superior de Engenharia de Minas, cabendo ao aluno, em 10 semestres, cumprir uma carga horária total de 4.305 horas.
A ousadia da proposta do NDE está na concepção que une a experiência, laboratórios e tecnologias dos cursos de Engenharia da Escola Superior de Tecnologia (EST) com a pesquisa e estratégia em gestão e monitoramento ambiental do mais importante bioma do Planeta – a Amazônia -, fortalecendo a UEA como Centro de Tecnologia, Política e Economia Mineral no Amazonas.
Considerando a escassez desse profissional no mercado público e privado, local e nacional, a exemplo de que a Agência Nacional de Mineração (ANM) possui apenas um Engenheiro de Minas no controle da mineração no Amazonas (um Estado com 1.570.745,68 km2, repleto de cases, conflitos e oportunidades econômicas de minerais energéticos, metálicos, não-metálicos, industriais, de uso na construção civil, insumos agrícolas e água mineral), é possível que se registre grande interesse e concorrência no futuro processo vestibular.
Dados coletados no PPC retratam o gargalo da mineração nacional: o MME registrava o trabalho de 6.148 Engenheiros de Minas no Brasil em 2008, projetando uma demanda de mais de 19 mil profissionais até 2030; e, entre 1999 e 2008, no mesmo estudo, o País formou menos de 100 engenheiros de minas por ano.
A conta não fecha…
Considerando a Amazônia mineral e seus desafios de governança socioambiental, cuidar da mineração a partir da educação, como propõe a UEA, é um gesto estratégico e muito bem-vindo.
A realidade dos dados publicados pelo Mapbiomas Brasil (www.mapbiomas.org) sobre mineração nos últimos 35 anos destacam o olhar científico que se projeta ao bioma amazônico: 1) em 2020, três de cada quatro hectares minerados no Brasil estavam na Amazônia (concentra 72,5% de toda a área de lavra, seja mineração industrial, ou artesanal de pequena escala – MAPE); 2) dos 149.393 hectares de mineração na Amazônia, 101.100 hectares (67%) estão relacionados a garimpo (MAPE); 3) 93,7% das áreas brasileiras de garimpo estão na Amazônia; 4) 49,2% das áreas ocupadas pela mineração industrial brasileira operam na Amazônia.
Prover de recursos humanos capazes de promover a reengenharia da mineração na Amazônia reforça o papel institucional da Universidade do Estado do Amazonas, através da Escola Superior de Tecnologia, como agente da transformação social, urgente e necessária, pelo conhecimento.
Considerando que apenas 1% do território amazônico possui mapas geológicos em escala e diagnóstico adequados ao reconhecimento de minérios e jazimentos, pouco, ainda, está dimensionado aos nossos recursos minerais.
Ainda nos faltam políticas regionais que integrem a capilaridade do arranjo produtivo industrial na Amazônia ao potencial da mineração instalada e/ou que pode vir a se instalar, de forma a substituir o atual modelo econômico atroz de exportação de commodities minerais.
Se a área da Amazônia é de 5.500.000 km2 e a mineração no bioma ocupa pouco menos que 0,027% desse território (150.000 hectares, ou 1.500 km2), o novo curso de Engenharia de Minas nasce com o desafio de abrir caminhos ao controle ambiental da atividade, pavimentando e construindo uma economia mineral promotora da conservação dos ecossistemas e das vidas resilientes do binômio Água-Floresta, sobreviventes que somos num território que insiste, de forma recorrente, em permanecer, como vaticinou o saudoso Prof. Dr. Samuel Benchimol, um “Zênite Ecológico e Nadir Econômico Social”.