8 de outubro de 2024

A Juventude Política e a nova serpa

Há alguns anos não visitava Itacoatiara. Aproveitei uma fiscalização do IPAAM para rever amigos e reviver lembranças de um período que, como gestor público no Amazonas, conseguimos captar investimentos nacionais e internacionais para um grande projeto econômico de mineração na região da foz do Rio Madeira e Rio Amazonas: a exploração das reservas de silvinita, rocha rica em sais de potássio, insumo fertilizante de grande importância na produção nacional de alimentos.

Ainda me lembro de um discurso do saudoso Senador Gilberto Mestrinho reconhecendo, lá pelos idos de 2005, o potencial mineral amazonense para além das jazidas de potássio do Arari (em Itacoatiara) e de Fazendinha (em Nova Olinda do Norte), ambas, pertencentes à PETROBRAS. Foi nesse período que tive o prazer de conhecer o prefeito de Nova Olinda do Norte, Adenilson Reis (MDB), um jovem de 28 anos, eleito para o seu primeiro mandato.

Com o vigor da mocidade e baseado em documentos cartográficos oficiais de criação do município, Adenilson Reis defendia a tese de que o potássio em Arari não pertencia à Itacoatiara. Mas, independentemente do fato, vislumbrava, como gestor público, que a exploração das jazidas deveria ser concebida dentro de um projeto de desenvolvimento regional e sustentável. Para tanto, propunha uma governança a partir do consórcio de municípios, especialmente, aqueles com reservas no subsolo.

Dados históricos da PETROBRAS indicavam que o minério rico em potássio existia em Nova Olinda do Norte, Itacoatiara, Borba, Autazes, São Sebastião do Uatumã, Urucará, Urucurituba, Itapiranga, Boa Vista do Ramos, entre outros, uma riqueza espalhada por uma região de aproximadamente 400km de comprimento, desde o Rio Madeira descendo o Rio Amazonas, para além dos limites do Estado do Pará.

As diversas reuniões e audiências públicas, iniciadas no município de Nova Olinda do Norte, se estenderam aos demais municípios supracitados. Visitamos a mina de silvinita da Vale em Sergipe, feiras da indústria mineral em Minas Gerais e em Toronto no Canadá.

Compuseram a primeira missão amazonense no PDAC – The Prospectors & Developers Association of Canada, o maior evento de negócios em mineração do planeta, em março de 2005, o jovem prefeito Adenilson Reis, o autor do presente artigo, que, na época, exercia o cargo de superintendente do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, além dos Deputados Estaduais Sinésio Campos e Eron Bezerra.

Todos estes movimentos políticos projetaram o reconhecimento das reservas amazonenses de potássio como uma grande oportunidade de investimento nacional e internacional, especialmente, pelas características logísticas da mina, localizada às margens das hidrovias Madeira e Amazonas, próxima aos principais centros consumidores nacionais de fertilizantes, o agronegócio do Centro-Oeste brasileiro.

Passados 20 anos, os investimentos da empresa Potássio do Brasil, da ordem de US$ 200 milhões, ampliaram as reservas de potássio para a margem esquerda do Rio Madeira, na Vila de Urucurituba em Autazes. Em 2024, acompanhamos a concessão pelo IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, das primeiras Licenças de Instalação do empreendimento minero-industrial (mina subterrânea, unidade de beneficiamento mineral e porto).

Resta claro o potencial econômico e estratégico da mineração nesta região do Amazonas, para além de limites municipais, conforme antevia o olhar profético do jovem político de Nova Olinda do Norte, que, neste ano de 2024, completa seu quarto mandato como prefeito.

Na semana passada, tive a oportunidade de me reunir em Manaus com um jovem empresário de Novo Remanso, Thidy Queiroz, que me apresentou sua proposta de pré-candidatura à Prefeitura de Itacoatiara, a partir do programa de governo intitulado “o caminho da Nova Serpa”.  Com sua experiência no setor primário, dedicou-se a me convencer da posição geopolítica do seu município como centro logístico para abastecimento, beneficiamento, armazenamento e distribuição de alimentos, considerando o trabalho dos produtores rurais das várzeas e terras firmes do Rio Amazonas e da Região Metropolitana. Falava em levar a produção de abacaxi para além dos limites estaduais e nacionais, com um produto especial, de sabor único, tipo exportação.

O que posso falar da minha primeira impressão: suas ideias me levaram a um déjà vu.

Na juventude dos seus 30 e poucos anos, disse o pré-candidato ter chegado ao meu nome através de uma entrevista que concedi ao jornalista Jacson Nascimento, reproduzida em Itacoatiara, onde comentava que as reservas de potássio descobertas pela empresa Potássio do Brasil em Autazes, também ocorriam em Novo Remanso e ao norte da sede municipal da Velha Serpa, bem como, no município de Itapiranga.

Rapidamente, abri minha apresentação da aula que daria a noite, no Curso de Especialização em Gestão Pública Aplicada em Estudos de Políticas e Estratégias promovido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra do Amazonas (ADESG/AM), e mostrei ao jovem político que poderíamos agregar à proposta do centro logístico de alimentos, uma ideia de fazer da região, também, um centro de atração de investimentos em pesquisa mineral para o potássio, calcário agrícola, calcário para cimento, na exploração de óleo e gás… a geodiversidade de Itacoatiara e dos municípios vizinhos é riquíssima.

Ressaltei que poderíamos em poucos anos, através da pesquisa mineral, alcançar o mesmo patamar econômico que vive hoje Autazes, considerando os novos investimentos públicos e privados previstos para a região da foz do Rio Madeira, da ordem de US$ 3 bilhões.

Relembrei ao pré-candidato Thidy Queiroz sobre como foi construída a história da primeira mina subterrânea em instalação no Amazonas, e o papel estratégico exercido por uma jovem liderança política de Nova Olinda do Norte, investida no cargo de prefeito municipal, muito semelhante ao desejo, vigor e ousadia do seu programa Nova Serpa a mim revelado.

É muito salutar vivenciar o momento de reforma política no Amazonas e no Brasil, com propostas sérias protagonizadas por nossa juventude. Que o exemplo do jovem prefeito de Recife, João Henrique Campos, arraste a sociedade amazonense ao compromisso, no próximo pleito de outubro, de escolher governos transparentes, responsáveis com a coisa pública e inovadores.

No caso de Itacoatiara, construir uma Nova Serpa pode estar bem mais próximo do que as pesquisas eleitorais apontam. Dependerá, exclusivamente, do voto útil no candidato certo.

 

*Geólogo, Analista Ambiental, Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia e Pesquisador do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA.

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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