12 de dezembro de 2024

A dimensão tecnológica do MC-T

Monitoramento

O desafio da dimensão científica do método científico-tecnológico é o de suprimento de conhecimentos de base científica para que a dimensão tecnológica possa acontecer. Os conhecimentos científicos se concentram sobre o(s) objeto(s) central(is) do problema e, muitas vezes, sobre o invólucro que os conterão. Quando a tecnologia estiver finalizada, é a partir do invólucro que poderá ser percebida e manuseada. Dessa forma, toda a dimensão tecnológica do MC-T tem como foco o invólucro, no processo de encapsulamento dos conhecimentos, configurando a tecnologia pretendida. Baseada nas experiências de engenharia de produtos, o MC-T prevê quatro grandes etapas de operacionalização da dimensão tecnológica: prototipagem, testes no protótipo, ajustes no protótipo e apresentação do produto final.

A dimensão tecnológica tem a incumbência de materializar a tecnologia pretendida. O primeiro desafio é a elaboração de um protótipo. Nesta etapa são manuseados, de forma simultânea, os dois agrupamentos de conhecimentos gerados nas quatro etapas da dimensão científica. As respostas às perguntas sobre os objetos centrais dos estudos vão auxiliar na determinação do escopo do produto (questão conceitual), estrutura (questão estrutural), funcionamento (questão funcional), relacionamento entre os elementos da estrutura (questão relacional) e sobre as influências que o produto e suas partes exercerão sobre o seu ambiente de operação e vice-versa. 

Se o artefato material da tecnologia já for conhecido, é importante que se verifique as formas mais atuais e aperfeiçoadas de produção. Por exemplo, os aplicativos educacionais são artefatos que se aperfeiçoam constantemente e por essa razão exigem do cientista a delimitação do estado da arte (limites dos conhecimentos mais recentes) para ser manuseado, se este for o caso. Ainda que os conhecimentos mais atuais não sejam utilizados, é sempre de bom alvitre conhecê-los e explicar por que não foram utilizados. Se for necessária a invenção de um novo artefato, a construção deve seguir criteriosamente as respostas obtidas para as questões norteadoras formuladas. Perguntas e respostas sobre os focos da pesquisa e acerca do invólucro da tecnologia precisam estar sempre em sintonia e interconectadas para que possam ser manuseadas.

O resultado da primeira etapa é o protótipo da tecnologia ou produto. Um protótipo é a versão final provisória daquilo que se quer criar. Não é um rascunho, maquete ou algo parecido. Rascunhos, maquetes, desenhos técnicos e similares são estruturas analíticas do produto (EAP), uma das etapas da prototipagem, como será demonstrado mais adiante. Se desejamos inventar um automóvel que voa, o protótipo é um automóvel capaz de voar. Se tivermos a capacidade de materializar um protótipo perfeito na primeira tentativa, essa primeira versão seria, depois dos testes, a versão final a ser apresentada ao seu público-alvo ou usuários. Uma versão final significa aquilo que foi possível materializar com toda a perfeição possível até aquele momento, enquanto aproximação do que os conhecimentos científicos predizem e o que nossa capacidade e habilidades arquitetônicas foram capazes de materializar.

A segunda etapa é a fase de testes. É preciso testar todo protótipo para saber se ele garante todos os benefícios e valores a serem entregues aos usuários e público-alvo. É por isso que todos os indicadores precisam ser testados a partir de variáveis específicas. Por exemplo, o indicador Segurança de um produto pode ser testado a partir das variáveis flexibilidade, resistência ao calor, resistência ao frio e índice de desgaste. Quanto mais promissores forem os resultados desses testes, maior adequação tenderá a ter o produto com o que dele é esperado por quem o demandou. Dentre os testes, portanto, há os indicadores dos benefícios e valores dos usuários e público-alvo, mas também há os indicadores técnicos específicos da própria tecnologia ou produto. O acondicionamento adequado é uma variável fundamental para a longevidade (indicador), a vida útil, de muitos produtos, enquanto complexidade de exercícios o é de inúmeros outros. O cientista precisa escolher variáveis específicas a partir de indicadores determinados.

A terceira etapa é o de ajustes ao protótipo. É bastante raro que um protótipo se converta em produto final sem ajustes. Ainda que os ajustes tenham que ser feitos em suas dimensões exteriores, como embalagens, sem eles a tecnologia não pode ser considerada pronta. A experiência tem mostrado que a avaliação precisa ser feita a partir de padronizações escalonadas, similares à lógica fuzzy. Há, portanto, pelo menos um mínimo ou máximo de intervalo de aceitação, a partir de um alvo central preciso. Se a condição para aprovação do produto, por exemplo, for um índice mínimo de 70%, esse mínimo passará a ser o alvo e o limite inferior.

A quarta e última etapa do método científico-tecnológico é o de apresentação do produto final. A apresentação começa com a certificação de que o protótipo foi aprovado em todos os testes a que foi submetido e termina com o conhecimento do público-alvo e usuários acerca de seu funcionamento. Em produtos que são direcionados para o mercado, é sempre recomendável o uso do marketing mix e suas etapas (produto, preço, praça e promoção). Para os que não o forem, os canais devem ser desenhados e operacionalizados em conformidade com os benefícios e valores para os atores fins determinados. Apresentar o produto significa, portanto, torná-lo presente na vida de quem os demandou.

A dimensão tecnológica do MC-T tem a finalidade, em última análise, de efetivar o suprimento de uma determinada demanda. Não é, jamais, apenas produto determinado produto e pronto. De que adianta uma inovação, se seus usuários e público-alvo não a conhecem? Qual é a validade de um produto que não foi testado em eficiência, eficácia e usabilidade, por exemplo? É preciso que se faça o ciclo completo do método, para que os resultados pretendidos por inventores e usuários ganhem em probabilidade de sucesso.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

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