11 de novembro de 2024

A arte de amar – (parte final)

Para terminar essa série, A arte de amar, proponho três ideias de reflexão filosófica sobre o amor: à exigência do amor, à sabedoria do amor e à experiência do amor. De forma bastante simples, podemos dizer que essas reflexões convergem para a seguinte conclusão: Quem ama sobe ao céu, toca em Deus e desce mais cheio de Amor.

Em primeiro lugar, à exigência do amor. Isso significa que o amor exige que sejamos corajosos. Quem ama não pode se acovardar diante das dificuldades. E nesse campo existem milhares de casos que poderíamos pegar como exemplo, mas eu sei que você não gosta de artigo muito longo, por isso vou apenas lembrar o caso de amor de Romeu e Julieta. 

O amor entre esses dois adolescentes não levou em conta a rixa que existia entre as suas famílias. Isso significa que eles foram corajosos para amar. Quem ama de verdade sempre encontra forças para superar as piores dificuldades. Mesmo que os amantes venham sofrer derrotas, continuam amando. E isso em todos os sentidos, seja no amor entre homem e mulher, ou mulher-mulher, homem-homem. O importante é amar.

Em segundo lugar, a sabedoria do amor. Essa questão recai sobre a forma como nós nos relacionamos, em primeiro lugar, conosco mesmo e, em segundo lugar, com os outros. Dessa forma, o amor interior nos faz seres capazes de amar para além de nós mesmos. É também nesse ponto que entendemos a sabedoria do amor conforme destacou Dom Bosco: “Deus colocou-nos no mundo para os outros”.

Nesse sentido, a sabedoria do amor é mesmo doação. “Não existe maior amor do que alguém dar a própria vida por causa dos seus amigos” como disse São João (15:13). Mas como nem todos são capazes de ato tão nobre, nesses tempos de tanto negacionismo, talvez “a sabedoria do amor” seja mesmo a prática da empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro.

 Em terceiro lugar, à experiência do amor. E aqui, novamente, temos milhares de casos. Como sou professor, ficarei no campo educacional. Narrarei um fato real. Recentemente recebi de uma professora uma mensagem. Como não pedi sua autorização para publicar, ocultarei o seu nome. Eis o que ela me escreveu:

“Caro professor Luís Lemos, assim que encontrei o seu contato, pensei em lhe escrever algumas coisas: Primeiramente, gosto muito dos seus artigos, mas o senhor precisa falar da real situação da educação no Amazonas. Na escola onde eu trabalho, os alunos não têm internet para fazer as tarefas dos professores. Estamos vivendo um verdadeiro “faz de conta” na educação. […] Escrevo-te tudo isso para dizer que a sociedade não pode continuar aceitando esse “faz de conta” na educação. […] Os meus colegas de profissão amam o que fazem. Muitos estão pagando para trabalhar. Apesar de tudo isso professor Lemos, eu não imagino a minha vida sem a sala de aula”.

Essa professora me fez ver como o coração do ser humano é grande. Infelizmente o espaço aqui é limitado, senão eu transcreveria o que ela faz para ajudar os seus alunos que não possuem internet. Em sua mensagem demonstra ter verdadeiro amor pela educação, pelo ensino, pelo que faz. Ela sintetiza justamente essa ideia: Quem ama sobe ao céu, toca em Deus e desce mais cheio de Amor. 

Por fim, o amor é assim, não importa a causa, a intenção, a profissão, o lugar, o tempo: o importante é amar. O amor transforma as pessoas, a sociedade, a política, os governos, o mundo. Que o nosso coração esteja sempre cheio de amor e aberto à arte de amar.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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