Carlos Silva[1]
Ao ler as palavras contidas na Lei em comento, me deparei com uma observação até lógica e simples, mas de uma profundidade enorme: uso do tempo. Sim, parece infantil até, mas, se pararmos para pensar nas ações, por exemplo, dos grandes estrategistas, ou jogadores de xadrez ou políticos históricos, veremos que o que une todas essas pessoas é a qualidade incrível em administrar o tempo que possuem. Claro que todos nós temos as mesmas 24 horas de um dia, mas, de fato, eu tenho as minhas horas, você as suas e eles, as deles. São conceitos pessoais e diferentes mesmo. “Não importa como se morre. O importante é como se vive”. Este dito popular talvez explique o contexto do artigo. Mas, contrariando o conselho, eu mesmo sou muito açodado, como dizem os meus amigos gaúchos. Sei que ao longo destes 66 anos posso ter perdido oportunidades incríveis por não saber esperar um pouco mais. No entanto, quando vou viajar, com os voos saindo às 2 da manhã, chego meia-noite no aeroporto e fico por lá. Afinal, “lugar de esperar a missa é na igreja”. Ou seja, tenho muito gás para ficar horas e horas esperando um voo sair, mas não suporto enfrentar fila de banco, por exemplo. Por outro lado, esta 35ª Lei das 48 Leis do Poder se refere à pessoas que possuem um objetivo político e estratégico na vida. Não condeno, mas não pratico. “Domine a arte de saber o tempo certo. Jamais demonstre estar com pressa. A pressa trai a falta de controle de si mesmo, e do tempo. Mostre-se sempre paciente, como se soubesse que tudo acabará chegando até você. Torne-se um detetive do momento certo; fareje o espírito dos tempos, as tendências que o levarão ao poder. Aprenda a esperar quando ainda não é hora, e atacar ferozmente quando for propício.” O livro traz uma verdadeira aula envolvendo Fouchê, Napoleão e Luís XVI. Vale a pena ler. “O poder raramente termina nas mãos dos que iniciam uma revolução, ou mesmo daqueles que a incentivam; o poder fica com quem a conduz a um desfecho.” Este ensinamento consta no artigo sobre a 35ª Lei. E tem várias passagens que fazem pensar. Admiro as pessoas que planejam algo para acontecer em 20 anos. E acontece. Nossos amigos chineses são assim. Mas, nós, latinos, pelo menos grande parcela, quer tudo agora e para hoje. E lembrem-se das palavras de Napoleão: “O espaço se recupera, o tempo não.” É a vida. Que aliás, segue. E com cervejas. Geladas!
[1] É Professor Universitário em Manaus.