15 de setembro de 2024

1º de Maio – O Sentido do Trabalho ao longo da História

Diz o ditado que: “o trabalho dignifica o homem”. A ação do homem em busca do sustento próprio sempre esteve presente em sua vida, desde os primórdios tempos. Porém, o sentido de trabalho foi ganhando novos significados e se transformando com o passar dos anos. Nas primeiras civilizações, por exemplo, o trabalho era encarado como um meio de sobrevivência apenas, e as atividades se concentravam na caça e na pesca majoritariamente (como algumas sociedades tradicionais ainda o fazem até hoje). Porém, com o decorrer das épocas, a questão da atividade em busca do sustento próprio passou a ter suas variantes ampliadas e as ocupações profissionais passaram também a ser sinônimos de realização pessoal, de sucesso ou insucesso e de poder. Tanto é que anteriormente era quase inexistente uma acentuada divisão do trabalho.

Já nos dias atuais vemos uma imensa variedade de profissões e/ou ofícios. Todavia, é importante salientar que essa mudança de contexto não aconteceu por si só, mas sim motivada por transformações sociais que vieram a impactar, decisivamente, o modo de vida e de sobrevivência das pessoas. A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra a partir do Século 16 trouxe uma mudança radical em toda a estrutura laboral da época. Até o advento da Revolução Industrial, a população tinha a produção artesanal como base. Ou seja, o próprio artesão fazia todo o processo produtivo em sua própria oficina (geralmente na própria casa), sendo o responsável por todas as etapas de produção. Porém, com a nova realidade imposta pela implementação da maquinofatura, das fábricas e da produção em massa, os pequenos artesãos, bem como muitos produtores do campo precisaram se mudar para as cidades e passaram a ser empregados nas indústrias que haviam surgido, pois não teriam como concorrer com uma estrutura de fabricação desse porte.

Ao mesmo tempo que a invenção de máquinas e meios modernos de produzir poderiam até substituir a força de trabalho humana em algumas áreas, essa mudança brusca nos meios de produção acarretou também diversos problemas sociais, uma vez que o intenso êxodo rural gerou uma superlotação nas cidades, sem que as mesmas tivessem as condições estruturais, de moradia digna e de saneamento básico necessárias para comportar um grande número de gente. Além disso, os funcionários das fábricas tinham intensas jornadas de trabalho, incluindo mulheres e crianças; muitas vezes em condições insalubres ou perigosas de atividades. A partir de então várias transformações aconteceram e os direitos do trabalhador passaram a ser conquistados, como no Brasil, com a instituição da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho), na década de 1940. E com o boom do desenvolvimento tecnológico cada vez maior nos últimos anos, o mercado de trabalho passou a modernizar seus métodos de produção, muitas vezes substituindo o trabalho humano pelo da tecnologia.

Hoje em dia, o conceito de trabalho (ofício, profissão, ocupação) ganhou uma amplitude muito maior, à medida que os elementos tecnológicos vieram para ficar e estão, a cada dia, mais presentes nas vidas e no cotidiano das pessoas. Seja na comunicação, na telefonia, na indústria automobilística ou nas atividades em geral…a tecnologia veio para mudar hábitos, oferecer novas ferramentas e facilitar processos. E neste ambiente, o mercado de trabalho também precisou se adequar e mudar. A inserção de novos mecanismos de produção, de novos tipos de contrato e modalidades de vínculo empregatício já são uma realidade, inclusive no Brasil, que já fez profundas alterações em sua legislação, como por exemplo, através da Reforma Trabalhista, sancionada em 2017.

Estamos na chamada era da Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, onde a automação tende a se tornar cada vez maior. A chamada ‘internet das coisas’ e ‘computação na nuvem’ são características deste novo momento transformador da realidade nacional e mundial. E a Organização que não estiver pronta para essa tendência, ficará para trás. Vimos que com a questão da pandemia da Covid-19, muitos hábitos foram modificados nas vidas das pessoas e nas empresas também, especialmente em virtude das medidas sanitárias de distanciamento social implementadas para evitar uma maior proliferação do novo Coronavírus. Assim, o Trabalho Remoto (ou Home Office), as Videoconferências nos mais diversos âmbitos, bem como novas possibilidades na prestação de serviços e nos vínculos de trabalho se intensificaram muito, mostrando um grande potencial em sua execução.

Ou seja, o fato é que muitas mudanças têm ocorrido no suceder da trajetória humana no que concerne às atividades laborais, em suas muitas nuances. E em todo este tempo foram diversas as conquistas alcançadas. Porém, ainda são inúmeros os problemas e entraves que permeiam a realidade trabalhista brasileira, como a falta de qualificação, os baixos salários, as altas cargas tributárias que incidem sobre os empregadores na folha de pagamentos dos seus funcionários (o que desestimula ou até precariza novas contratações), a falta de incentivo para a produção de novas tecnologias e/ou pesquisas que agreguem valor, a ausência de investimento maciço em capital intelectual; sem falar também na imensa disfunção burocrática existente, somada a outros problemas estruturais. 

Nosso País conseguiu importantes avanços, mas para acompanharmos o ritmo cada vez mais dinâmico da evolução tecnológica global e podermos ter o Brasil em um patamar de competitividade que reflita o tamanho do potencial que temos enquanto Pátria, precisamos de uma consciência cívica, consistente, ousada e promissora, começando por nossos governantes, por meio de ações profundas e profícuas a curto, médio e longo prazo e com o envolvimento de todos os atores que fazem parte deste processo, tanto os área de gestão (pública e privada) quanto os que compõem a mão-de-obra produtora da nossa Nação.

Lisandro Mamud

Lisandro Mamud é administrador, pesquisador em Inovação, Tecnologia e Educação do Núcleo Educotec (Ufam)

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